sábado, 11 de novembro de 2017

O que é progresso, evolução? Alex Murphy, a Diretiva 4 e Sofia: para onde vamos?

Em Dubai, nos Emirados Árabes, estão desenvolvendo policiais-robôs. A princípio, farão apenas trabalhos burocráticos. Porém, logicamente, a ideia é que logo, façam o trabalho de um policial comum, um policial humano. 

É impossível eu não me lembrar de ROBOCOP (falo do clássico da ficção científica de 1987 dirigido por Paul Verhoeven e que sofreu enorme influência da obra-prima dos Quadrinhos, BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS, de 1986, escrita e desenhada por Frank Miller e arte-finalizada por Klaus Janson, e não da fraquíssima refilmagem de 2014). Impossível não lembrar da robotização, endurecimento e falta de humanidade que tentaram impôr ao policial da cidade de Detroit (EUA) Alex Murphy. Para quem não conhece a história, um breve relato: após ser massacrado com requintes de sadismo por um grupo de ladrões de banco (e um tanto mais de crimes no currículo) e dos médicos tentarem reanimá-lo sem sucesso e o declararem clinicamente morto, uma empresa privada, a OCP (Omni Consumer Products), responsável, entre tantas outras coisas, produtos e também pela terceirização da cidade de Detroit em um futuro distópico não específico, toma posse legalmente do corpo do policial. Tornam-no um ciborgue. Apagam sua memória. Seus atos, sua vontade, agora pertencem à OCP. 

Alex Murphy não é mais um homem, ele é um produto, uma máquina, uma coisa.

Como toda máquina, todo computador, ele não raciocina livremente. Ele cumpre de maneira lógica seus atos a partir de comandos pré-estabelecidos Estes comandos eram chamados de 'diretivas' e eram quatro:

Diretiva 1 - servir à população
Diretiva 2 - proteger os inocentes
Diretiva 3 - cumprir a lei
Diretiva 4 - confidencial

Neste ponto, fica mais clara a profundidade deste 'blockbuster' hollywoodiano. Afinal, o que é a confidencial Diretiva 4? Pois bem. Esta diretiva, implantada no cérebro do Robocop sem o conhecimento da equipe de cientistas que desenvolveram o ciborgue, foi um tipo de carta-coringa lançada pela OCP em caso de possíveis problemas com seu 'produto'. Ela impede que Robocop tente, por qualquer que seja o motivo, prender um funcionário do alto escalão da mega-empresa. Lembrando também que o próprio Robocop não sabe do que se trata tal diretiva. Ou seja, a Diretiva 4 é um meio que busca ser definitivo de controle.
Em determinado momento do filme, quando Robocop tenta prender o vice-presidente da OCP, a Diretiva 4 entra em ação automaticamente e logo, o policial entra em terrível colapso, perde quase que totalmente o controle do próprio corpo e cai, parecendo sentir... dor! 

Nesta hora, Dick Jones, o homem que seria preso diz ao agonizante policial:"O que pensou? Que é um é um policial comum? Você é o nosso produto. E nosso produto não pode se voltar contra nós, pode?" 

Há este trecho no YouTube. Infelizmente, sem legenda. Mas dá para entender bem. Olha só:


Mas acontece que algo realmente sai errado na concepção desse 'produto'. Algo que não foi levado em consideração tanto pelos cientistas quanto pelos homens de negócio: ele Robocop, ele Alex Murphy é humano. Apesar de tudo, apesar da violência em várias esferas como a da própria vida de um policial, das gangues de criminosos, da sociedade, do poder estatal, das corporações sem rosto como a OCP; apesar até mesmo da morte, o espírito, a consciência de Alex Murphy resistiu. Assimilou e superou todos os traumas. Traumas múltiplos em pouco espaço de tempo como o massacre brutal, covarde e até fetichista que sofreu dos criminosos que o 'mataram'; o trauma de estar numa mesa de cirurgia sendo aberto, cortado, picado, entubado e, ao mesmo tempo, vendo a imagem da mulher e do filho misturando-se a dos seus assassinos. E finalmente, o trauma da reconstrução de seu corpo como se fosse um brinquedo de montar e desmontar. Alex Murphy superou o medo, aceitou seu destino, aquilo em que, sem seu consentimento, o transformaram e, então, ele despertou. Sim, ele despertou! Pois ele estava dormindo dentro de si mesmo. Dentro de sua cabeça. Vale aqui lembrar também que tudo o que restou de Alex Murphy foram seus sistemas cardio-respiratório e digestivo (com capacidade limitada de sua função), sua cabeça, rosto e cérebro. Cérebro que foi 'lavado', porém sem sucesso. A humanidade de Alex Murphy resistiu e superou o tecnicismo, o progresso, o futuro. Note que bem ao fim do vídeo que você acabou de assistir, após ser golpeado pelo ED 209, é possível ver um dos olhos de Alex Murphy. Sai o visor do robô e surge a visão do homem, do ser humano.

É realmente emocionante ouvir sua resposta quando lhe perguntam assim: - Policial, qual é o seu nome? - ele deveria dizer 'Robocop', mas ao contrário, ele diz - : - Murphy! E sorri. 
Veja, uma máquina, uma coisa, não pode sorrir! Somente os seres vivos, inteligentes, conscientes, têm esta capacidade (eu juro que vejo meus amigos caninos sorrindo). E o sorriso é algo de uma beleza... Algo tão reconfortante e contagiante. Algo que não se explica. Se faz. E para isso, é necessário um tipo de inteligência, que somente alguns animais podem fazer. E nós, humanos, estamos entre eles (pelo menos até hoje. Volto a falar sobre isso no fim do texto). O poder do sorriso!

A esta altura do campeonato, e do texto, você deve estar se perguntando: 'Tá, tudo bem. Mas aonde é que você quer chegar?" E eu digo: Esta é uma ótima pergunta. E eu respondo: Estamos já há anos, décadas, trilhando este caminho, o caminho das máquinas e não o do homem, o das pessoas. Da Revolução Agrícola em diante, temos 'progredido' rápido e inexoravelmente. Em nome do lucro, postos de trabalho vêm sendo fechados. Em nome da eficiência, da qualidade e em nome da cada vez maior e insaciável demanda, dispensa-se os homens, as pessoas e colocas-se em seus lugares, máquinas. Nesta hora os mais apressados logo dizem: "Ah! Este maldito capitalismo!",mas esquecem-se, de verdade porque nem mesmo sabem ou porque lhes é conveniente, que os sindicatos, antes órgãos que eram os próprios trabalhadores, conscientes de quem eram e de seu valor, são hoje nada mais que um tipo de repartição pública, excessivamente burocrática, com tudo o que há de pior num lugar assim. Afastou os trabalhadores, perdeu o sentido, e hoje, no caso do Brasil, muito por conta de Getúlio Vargas, ou seja, do Estado, apenas assina papéis, não importando se os trabalhadores são lesados, roubados, tripudiados, demitidos. Pois assim mantêm suas regalias medíocres, decadentes. Decadentes como as famílias mais ricas do mundo que vivem do lucro pornográfico gerado pelas miseráveis famílias que vivem em mundos paralelos inimagináveis para a maioria de nós. Até porque vivemos melhor assim, fingindo que o mundo é uma série do NetFlix: sabemos dos problemas, do sofrimento, mas está lá longe, distante, quase uma boa ficção. Nada mais. Tudo o que temos que fazer é 'desligar' que os problemas somem.
As famílias mais ricas do mundo, que não devem passar de uma dezena no máximo, juntam dinheiro de uma forma absurda que sustentará gerações e mais gerações desta mesma família. Aliás, 'sustentará' é só uma forma de dizer. Viverão como herdeiros de uma grande dinastia medieval. Ou seja: ricos, muito ricos, sem terem que fazer absolutamente nada! Estes herdeiros dizem: "O dinheiro é meu!" Eu diria: Não, não é! Pois eles não trabalharam por este dinheiro. Eles têm algo em suas mãos que não lhes pertence. Portanto, é roubo. Todo este dinheiro que chega às mãos destes herdeiros(as) das grandes corporações, com o consentimento do Estado, é fruto de roubo. São, portanto, estes herdeiros e herdeiras, ladrões e ladras. 

E tudo isso, todo este dinheiro, este poder, vêm da exploração do homem pelo homem. Algo necessário para a existência do Estado e do poder econômico. 

Há saída para tal destino trágico? Devemos nos tornar também máquinas frias, que apenas cumprem ordens, diretivas, para vivermos melhor, para não sofrermos mais? Vale a pena a agonia de romper com nossas inúmeras diretivas 4? Tal progresso que surge perante nós todos os dias numa velocidade sem igual vista até hoje, é irreversível? 
Me pergunto pois apesar de todas as mudanças tecnológicas, um determinado grupo de homens, assim como no passado mais distante, continua com um único e mesmo objetivo: enriquecer, ter poder. Então, qual é mesmo o propósito deste tipo de evolução? No fim das contas, me parece, não há evolução nenhuma, em qualquer sentido que busquemos ao termo. 
Bem, talvez a única evolução que obtivemos foi num sentido contrário: o da diminuição do ser humano e de todos os seres vivos e do aumento do valor, aqui num sentido não apenas econômico, das coisas. É isto o que muitos chamam de progresso?

Nossos espíritos terão o mesmo vigor e resistência do espírito de Alex Murphy?

Eu disse um pouco antes que voltaria ao tema 'somente alguns animais teriam a capacidade de sorrir'. Bom, parece que algo mudou. Recentemente, surgiu a androide Sofia. Ela é, pelo que eu saiba, a maior expressão do que chamam de IA (inteligência artificial). Para ser sincero, eu fiquei assustado. Em vários níveis. Um robô que sorri? Consciente? Esse medo que sinto é fruto de minha mente primitiva? Talvez. Bom, se ainda não viu nem ouviu Sofia, veja o vídeo e vá ruminando todas estas informações junto comigo. 
Veremos o que aquilo que chamam de progresso, de evolução, trará para nós. Veremos.

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