sexta-feira, 1 de maio de 2015

"Você não é uma máquina, não é desprezível. É um homem!"


"Soldados! Não vos entregueis a esses brutais que vos desprezam, que vos escravizam, que arregimentam as vossas vidas, que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois!"

O Grande Ditador, de Charles Chaplin




Todo mundo sabe, todo mundo viu. A PM do Paraná acabou com os professores de seu estado. A PM de S. Paulo é do mesmo jeito, age da mesma forma. A polícia dos EUA mata sem dó os negros. Vira e mexe, a gente vê isso nos documentários. A polícia, e em maior extensão o exército, nada mais é do que o braço armado do governo (da esquerda ou da direita). A polícia. Não o policial. 

Como assim? 

Uma vez, quando manifestações ainda eram coisas, pensamentos distantes, me reuni com um pessoal que estava a fim de protestar contra a corrupção, em S. Paulo. Acho que foi em 2011. Uma meia dúzia de gatos pingados. Mesmo. Mas uma coisa me chamou a atenção (negativamente) no discurso da moça que estava à frente da coisa toda. Ela disse: "Não esqueçam, policial é inimigo!". Não concordei. Na época, pensava que os policiais também eram trabalhadores, assim como nós. Que eram apenas mais uma parcela da massa. Enganada, ludibriada, levada a SER não o que deveria SER, não o que é (SER humano), mas antes, SERviçais sem escolha. Componentes de uma engrenagem que não pode parar. Que põe na sua cabeça que se você não SERvir por SERvir, não SERve pra nada. É descartado. 

SER ou não SER? Eis a questão.

O caso é que ainda penso assim. Que, como disse um líder comunitário de uma favela do Rio, o problema não é o policial, o homem, mas sim a instituição. 

Ah, as instituições. Os lugares que nos programam. E você aí, todo pimpão, acreditando que domina seu querer, que come aquilo que quer. Até dá para fazer isso (dominar seu querer) mas não é fácil. 

Sabe a manipulação que sofremos com propagandas, com a mídia (espero que sim)? Com os policiais é a mesma coisa. Uma bordagem diferente, mas com o mesmo objetivo. Por isso não digo que policial é inimigo. Não é. Acredito que há dois tipos de policiais: aquele que tem vocação guerreira, marcial, que acredita que pode fazer a diferença pelas armas e aquele que entrou por falta de opção de um outro trabalho. O segundo caso, acredito, é o mais comum. O primeiro, exceção. Daí já é detectado um grande problema (semelhante ao que acontece na segurança privada): qualquer um entra ou pode entrar. Lembrando que tudo isso ocorre pois a sociedade não se importa. Só quando nos convém, quando a coisa vem pro nosso lado. Afinal, pimenta no cu do outro...

Escrevo isso para tentar dar uma ampliada no contorno, no todo.  

De volta ao Paraná, 17 Homens (com h maiúsculo) se recusaram a combater, ou melhor, massacrar professores. Cidadãos que pagam seus impostos e consequentemente seus salários. Entenderam que são, assim como muitos professores, funcionários públicos. Que devem SERvir (por escolha) à população e não oprimi-la. Que o "forte" protege o "fraco". Que foram treinados e armados para combater, atacar, criminosos. Tiveram a clareza para entender que professor não é "inimigo". O inimigo é esse conjunto maligno que forma e põe tipos como o Richa no poder (o sufrágio universal não funciona). Que forma uma elite cujo mérito é o poder político e econômico e não o intelectual, o humano. Uma desgraça para o povo que, muitas vezes não se dá conta ou simplesmente não liga, pois, em geral, almeja ser igual a tal elite (mas essa é outra história).

A desobediência desses 17 Fortes mostra que há sim a possibilidade de mudar as coisas. Que alguém precisa mostrar que não somos inimigos (policiais e nós). Que existe um (ou uns) titereiros em cima de nós todos. Pesando, massacrando. Mas que jamais poderão estar acima, pois são pequenos demais pra isso. Assim que tivermos a verdadeira noção de quem somos e do que podemos fazer e paramos de agir feito crianças mimadas fechadas em seu egocentrismo. 

Gandhi mostrou como a não-ação pode ser a maior das ações. Se o Estado reprime, usando o policial (bucha de canhão), por que não podemos fazer o contrário? Pois para ELES nada mais somos do que gado pro abate, peças com reposição fácil e barata. Baratas. É isso que somos para ELES.

Li a notícia sobre os 17 Fortes em uns três sites. Dedicaram apenas um parágrafo a eles. Por que? Não é relevante tal notícia?  Acredito que seja. A quem interessa que tal fato seja rapidamente esquecido? Qual seria a consequência de uma maior repercussão dessa desobediência entre outros policiais, militares, entre civis?

O que poderia acontecer?