sábado, 15 de agosto de 2015

Hoje tem marmelada? Não tem, não sinhô!




Em tempos onde achar graça nas coisas está cada vez mais difícil, onde reina o mau gosto cômico fazendo sempre aquele que é oprimido ser o centro da tal piada, a PM do Paraná, mais uma vez, mostra que o Palhaço está certo. 

Antes de continuar, eu gostaria de dizer que eu acredito nas pessoas. Apesar de tudo. Inclusive nos policiais. Sim! Acredito que são, em sua maioria, vítimas também. Vítimas da ignorância como muitos outros. A ignorância é a maior arma que ELES têm. Sem dúvida. Pois com a ignorância reinando, AQUELES que detém o poder por culpa da ignorância universal (você e eu estamos nessa, viu!) fazem o que bem entendem. Ordenam, comandam, vociferam e assistem tudo do camarote. Ou melhor, dos palácios oficiais. Toda essa ignorância vem lá dos primórdios, na educação (ou a falta de), como bem disse o pedagogo Francisco Ferrer y Guardia que morreu fuzilado por tentar quebrar essa maldita corrente de ignorância através da Escola Moderna, na Espanha. Mas isso é uma outra história.

O ato dos policiais, repito, somente dá total razão ao artista de rua. Os policiais alegam que foram chamados de "palhaços, de seguranças do Beto Richa (Governador do PR)". O Palhaço Tico Bonito, o artista de rua, diz que não usou a palavra "palhaço". No vídeo abaixo, está registrado o momento em que ele diz aquilo que teria feito os policiais entenderem que houve desacato.

 
Eu acredito no Tico. E não acredito que ele usou a palavra "palhaço". Pois esta palavra não é ofensa, não serve para apontar algo que está errado, que seja ruim para as pessoas. 
O Palhaço, creio eu, é aquele que manifesta a poesia, que se torna poesia. Simplesmente por mostrar-se como ele é de verdade. E num mundo tão feio e cinza como o nosso tanta vezes é, ele se torna uma luz de farol para nós que estamos meio que perdidos nesse nevoeiro sujo e espesso. 
Porém, mesmo que o Tico tivesse feito, ou que tenha feito o uso da palavra "palhaço", nada justifica o ato policial. E só pra constar, um policial que fala com o jornalista que está gravando o ocorrido não cita essa "ofensa". Cita as demais. Que não são ofensas. São críticas, coisas bem diferentes.
O militarismo burro que o alto escalão das polícias usa para comandar suas tropas, cria esse tipo de comportamento truculento, inapropriado, exagerado, fora de contexto. A cada dia que passa, especialmente a população das periferias, acredita menos na polícia. Aqueles que comandam essa força que deveria 'servir e proteger' os cidadãos, são pessoas que vivem numa bolha (usando um termo da moda), num eterno desejo de conflito. Bem, um desejo de conflito pros outros (os soldados) e não para eles. ELES ficam em seus gabinetes com ar condicionado. ELES condicionam os soldados que acabam vendo 'inimigos' por todos os lados. Onde já se viu jogar o cavalo pra cima das pessoas? São pessoas! Não são criminosos de alta periculosidade. As pessoas estavam apenas protestando. Não houve ato hostil de ninguém que estava próximo da viatura. Somente o pessoal do Choque agiu de maneira hostil.
Aquele, que para mim, é o maior de todos os palhaços, Charlie Chaplin, era crítico feroz das injustiças sociais, das autoridades. Inclusive da polícia. Acredito que Chaplin é quase uma unanimidade. Mesmo entre policiais.
A polícia querer mostrar autoridade, prendendo o Palhaço, mostrou apenas autoritarismo. A polícia não pode pensar que cidadão é somente aquele que tira foto com ela em passeata (?!) . A polícia tem que ensinar aos policiais autocontrole e não autoritarismo. A crítica do Tico Bonito foi dizer simplesmente que eles serviram como seguranças particulares do governador. Que fazem isso sendo pagos com nosso dinheiro.
Oras! São servidores públicos. Assim como os prefeitos, vereadores, governadores, até que se chegue no ou na presidente. Mas como bem disse o Coronel Nascimento no fim de 'Tropa de Elite 2': - O sistema é foda!. E é. ELE subverte tudo. Aqueles que deveriam nos servir se veem acima de nós e portanto, nós é que temos que servi-los. E nós, como bom gado, concordamos. Acreditamos nisso e nem nos damos conta. ELES subvertem tudo. Subvertem o papel da polícia. Que deveria nos proteger, mas, no final, em geral, protege somente a ELES. E os policiais, assim como nós, não se dão conta. E no fim nos matamos: a polícia nos vê como inimigos e nós os vemos como inimigos. E ELES riem.
Somente quando a ignorância, e com ela a intolerância, for deixada para trás, é que essa realidade poderá ser mudada.
Foi um grande erro esta prisão. Porém, como em muitos casos, em muitos episódios dessa vida, aquilo que vemos é apenas um pedacinho de um enorme todo.
                                                

                                                      Hoje tem marmelada?
                                                      Não tem, não sinhô!
                                                      Hoje tem goiabada?
                                                      Não tem, não sinhô!
                                                      E o Palhaço, o que é?
                                                      É preso, sem saber porquê é!