sábado, 22 de outubro de 2016

Um Conto Urbano

Numa sexta-feira de tarde. Avenida Industrial em Santo André-SP. Na altura do Gran Plaza Shopping, um homem caminha com dificuldade. Parece ser tomado por muita dor. Pára. Olha ao redor. É uma tarde ensolarada, agradável. Muitas pessoas passam por ali. Ele olha ao redor, mas ninguém olha para ele. Sentindo que vai cair, que não tem mais forças em suas pernas, agarra-se à grade de ferro do shopping. E fica ali, parado, de olhos fechados, pensando no que fazer. Sentindo dor. Todos passam por ele.
- Será que ele tá passando mal? (ouve-se a voz de um homem, distante) Ele tá passando mal! (insiste a voz) Ô, vai lá! (continua a voz do homem. Ele mesmo 'vai lá').
- Você tá passando mal? É coração?
- Não, não é coração. São minhas costas.
- Quer que eu chame uma ambulância?
- Não precisa.
E as pessoas passam por eles.
- Senta ali no ponto.
- Eu preciso dar um tempo aqui pras forças voltarem. (ele sente um forte odor de álcool vindo do homem)
- Quer que te segure, uma massagem?
- Não, amigo, não precisa. Obrigado. Só preciso de uns minutos.
Passam os tais minutos. A força volta. Dá para caminhar até o ponto de ônibus e sentar-se no banco. O sujeito prestativo está sentado.
- Senta aqui, cara. Tá melhor? (ele agora se dirige para um casal de idosos que também está no ponto de ônibus) Ele passou mal. ´Cês viram? (o casal o ignora)
- Tô melhor sim, mano. Valeu! Muito obrigado por sua ajuda.
- Que é isso. Você é ser humano. Tava passando mal, eu vi, tinha que fazer o quê? Ajudar, né? (nisso, pega uma garrafa de Fanta misturada com vodka que está dentro de uma sacola plástica do Extra. O homem está alcoolizado)
- Tá certo. (sorri) Prazer. Douglas.
- Anderson. (apertam as mãos)
E as pessoas continuam passando.

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