segunda-feira, 1 de maio de 2017

Um cidadão comum não conhece o seu devido lugar, ou: obrigado, Belchior

Não. Não sou, infelizmente, um grande conhecedor do trabalho do Belchior. Azar meu. E seu que está na mesma situação que eu. Mas como sempre digo: "Nunca é tarde demais." E viva a internet!

Belchior, me parece, é mais um daqueles casos de alguém significante, num mundo cheio de pessoas insignificantes. Alguém que está destinado a morrer só. Sendo minoria, mas nunca menor. Nunca!
Esta letra, 'Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum'. Ela é toda a explicação necessária de que tudo o que está aí... está errado.  Ela fala tão forte em mim. Me lembro de acordar bem cedo para pegar no batente, ainda garoto, com 16 ou 17 anos. Aqueles ônibus cheios, lotados, ainda cedo. Massas e massas de gente sem rosto, pois o indivíduo é anulado, treinado desde a escola, dentro de casa, para não ter rosto, não ter alma. Hmmm! Fico aqui pensando o quão semelhantes o capitalismo e o socialismo de Estado são. Mas voltando, quando via aquilo, bem, Belchior traduziu bem meu pensamento e sentimento de vazio e angústia da época, e que persiste até hoje:'... feito aquela gente honesta, boa e comovida que caminha para a morte pensando em vencer na vida. Era feito aquela gente honesta, boa e comovida que tem no fim da tarde a sensação da missão cumprida'. Meus olhos se enchem de lágrimas neste momento da mesma forma que ficavam antes, lá nos anos 1990.

Claro, é um ponto de vista. Mas é um ponto de vista que até agora, não conseguiu ser tirado de mim e, acredite, tentaram muito. Eu, inclusive. Mas o caso é que é assim que tudo me parece. Vejo capitalistas e socialistas de Estado, dois lados de uma mesma moeda, numa guerra sem fim. Ambos dizendo que 'o trabalho dignifica o homem'. Ora, a dignidade não vem de trabalho, do trabalho, porcaria nenhuma. A dignidade de alguém está em sua mente e em seu coração. '(...) dignifica o homem!...'. Tanto mal essa ideia, esse pensamento cheio de armadilhas causou e ainda causa. O que nos dignifica é enxergar o outro como um irmão, como uma irmã. E não como um meio para um fim. É entender que somos diferentes e que estas diferenças são uma grande vantagem. Algo que nos tornará melhores. Em homens e mulheres plenos, seguros, que amam uns aos outros. Digno é buscar uma sociedade mais justa sem impôr nada para ninguém. Digno é presar pela Liberdade realmente. Tanto a minha quanto a do outro. Dignidade é não dizer/agir/pensar que 'os fins justificam os meios'. Dignidade é não precisarmos ter/criar inimigos para provar algum valor. Valor! Essas pessoas, hoje à frente dos 3 Poderes ('o poder corrompe...'); dos sindicatos institucionalizados, conhecem apenas valores monetários. É no dinheiro e, principalmente, no poder que o dinheiro proporciona que essa laia fedorenta pensa. Pensam nisso para que você não pense. 'Revoltar-se é dizer NÃO', segundo Albert Camus e antes deste,  Étienne de La Boétie.  Não é fazer quebra-quebra, extravazar energia sexual juvenil da maneira errada. Energia sexual, maravilhosa, tem que ser posta pra fora trepando, certo? Não quebrando coisas por quebrar 'porque estou indignado'. Não há sentido e nem lógica nisso. Ou ainda, essa tolice sem fim do 'cidadão de bem' que vai trabalhar pois 'não é um vagabundo grevista', que o 'país precisa crescer', que 'está fazendo sua parte'. Ora, por favor! Essas são algumas das práticas de um 'cidadão comum'. Percebe?
Precisamos sair do comum, do ordinário. Quão ordinários somos. Somos uma enorme boiada ordinária, uma massa amorfa, como disse Edgard Leuenroth. Sejamos extraordinários!!
Para terminar essa fala para ninguém, digo o mesmo (mais uma vez) que o Belchior: "Conheço meu lugar!" E você, conhece o seu?

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